Tudo começou no dia em que recebi uma carta que escrevi para mim há uns quantos anos atrás. Não me lembro de a ter escrito e muito menos a quem pedi para a guardar e enviar anos mais tarde. Mas ao ler as coisas que naquela altura quis escrever para o Eu do futuro, percebo que por mais mudança que venha, a essência está sempre lá. Aquela era eu, sem olhar ao tempo ou ao fuso horário emocional em que me encontrasse.
Entre outras coisas, encontrei naquelas palavras uma optimista em reincidência, a esperança com menos uns anos de terapia de realidade, e no entanto parece-me que hoje escrevendo coisas diferentes iria muito provavelmente querer dizer as mesmas coisas. Este episódio fez-me pensar sobre uma série de questões, e hoje partilho com vocês algumas destas reflexões.
Qual terá sido a minha motivação para o fazer, muito honestamente não me vem à memória, mas podemos embarcar juntos num exercício de adivinhação. Terá sido uma tentativa de influenciar o futuro com o conhecimento que na altura me parecia mais permanente que efémero? Ou terá antes sido um exercício despretensioso de terapia através da escrita, sem outra intenção que não servir o momento presente? Qualquer que tenha sido o estímulo está inerente uma vontade de movimento, de mudar ou moldar alguma coisa, de crescer.
A segunda reflexão levou-me para uma ideia de progresso circular, eu sei que parece um conceito sem sentido e até contraditório, porque crescer significa quase sempre mudar. No entanto, essa mudança pode às vezes ser subtil e até acontecer dentro de si mesma, como uma espiral que se mostra – linha curva que se desenrola num plano de modo regular a partir de um ponto, dele afastando-se gradualmente.
Independentemente dos quês e dos porquês, ficção ou realidade, esta é a história que quis contar no dia em que me desafiaram a escrever aquela carta. Somos sempre fruto de nós mesmos e não podia ser de outra forma.