Tenho um grande amigo angolano que diz que Deus é Mulher.
O meu amigo dá-me várias razões para tal: a força, a inspiração, a coragem, o colo de Deus só pode advir de uma mulher…
Este meu amigo, um pintor talentosíssimo com uma história de vida incrível, diz também que se “sente um pequeno Deus quando está perante a tela”.
Assumo que sou católica, mas digo muitas vezes que o sou porque cresci em Oleiros. Se tivesse nascido numa qualquer vila do Médio Oriente ou do Norte de África provavelmente seria muçulmana e se tivesse nascido na Índia talvez fosse hindu ou budista (ou de outra religião qualquer, que na Índia há imensas).
Costumo dizer que crescer num meio católico só me fez bem. Foi no grupo de jovens do crisma de que fiz parte (em que eu e o meu querido Zé António – que se tornou um dos melhores padres que conheço – éramos o terror da saudosa Irmã Manuela, com todas as questões difíceis que colocávamos) que aprendi o valor do voluntariado, o valor do servir o outro.
Costumo dizer também que foi o meu pai que me ensinou o respeito pelas pessoas mais velhas e pelos animais. E foi.
Mas fazer parte e crescer num ambiente católico fez-me consolidar tudo isso. Consubstanciei-o com as diversas ações sociais que fiz e faço ao longo da vida, esperando honrar o meu pai e o que me ensinou e também tudo o que aprendi com todos os seres de Bem com que me fui cruzando. Muitos católicos, outros não. Mas reitero, a Igreja Católica a mim só me ensinou o Bem. Mas se tivesse nascido numa das quaisquer vilas deste mundo no seio de uma outra religião qualquer provavelmente diria o mesmo, que essa só me teria ensinado o Bem.
É verdade que referindo Deus, nas suas mais diferentes religiões, já se fizeram guerras e tantos outros males. O fanatismo religioso existe, mas talvez o principal erro teológico do fanatismo seja não deixar espaço para a Fé. E há por vezes uma idolatria associada a Deus. E esta é perigosa pelo facto de dar atributos divinos a coisas próximas a Deus. O fanatismo substitui Deus por um objeto finito e crê que pode possuí-lo. Mas, como Deus é infinito, essa infinitude é o antídoto: o crente que adora a Deus sabe que nunca poderá controlar Deus.
E Deus (assumindo qualquer forma ou função) é livre é dá-nos a maior benção de todas – o livre arbítrio – e por isso podemos escolher, não o controlando e não controlando os outros. Entregando.
Tenho amigos de outras religiões que me chamam “mana”. Uma vez perguntei a uma dessas minhas amigas: “mas, ainda não percebi…és cristã? Qual é a tua Igreja, afinal?”. Ela respondeu: “Isso interessa? Estamos do mesmo lado.” Tinha razão. Conheço pessoas que têm religião, ateus, agnósticos que estão do mesmo lado, do lado do Bem. Afinal, somos todos Irmãos e capazes de fazer um mundo melhor, sejamos religiosos ou não.
Eu acho que Deus não tem género, ao contrário do meu amigo Mangovo. Acho que qualquer Deus é homem e mulher e qualquer outro tipo de género, e todos ao mesmo tempo. Mas concordo com ele, “temos que nos sentir pequenos deuses perante as nossas telas”. Temos que assumir a nossa centelha divina no uso dos nossos talentos, e todos os temos.
E Deus (de qualquer religião) ajuda-nos a escolher o rumo certo, o do Bem, se estivermos conectados e disponíveis para tal. Sem julgamentos nem fanatismos, que esses não nos permitem viver em paz nesta casa comum da Humanidade.
E todos os dias acontecem milagres, e um destes dias o processo de busca pela União apesar das diferenças, pelo Ecumenismo (entre todas as religiões) há-de vir a acontecer.
Façamos a nossa parte!