Já estás com 30, tens de casar ou vão achar que tens um problema.
Olha que o tempo está a passar, já devias ter um filho.
Após o primeiro filho: Agora já sabes como é, quando vem o segundo?
Quando vais ao segundo filho e não tens um casal: Olha que pena, um casal é sempre mais bonito.
Estas são apenas algumas das coisas que uma mulher tem de ouvir ao longo da vida. Quando não tem namorado, a pressão é apresentar um. Quando casa, são os filhos. Há pressão e julgamento constante.
Esta semana tropecei num Twitt de um grunho da juventude popular que se diz cristão e não sei quê.
Fiquei irritada, triste, revoltada e muito zangada.

Quando uma mulher não tem filhos, o rótulo é imediato – egoísta. No extremo, dizem que então não serve para nada. Sim, já ouvi de tudo.
Ser mãe é algo muito importante e não o ser também. Não pode ser algo discutido por aí por pessoas que não fazem ideia do que estão a falar.
Há mulheres que não podem ter filhos e sofrem muito com isso.
Há mulheres que querem muito ser mães, mas demoram muito tempo até conseguir e durante esse tempo, cada período que aparece é razão para se chorar durante horas.
Há mulheres que não podem ter filhos, mas estão em paz com esta condição.
Há mulheres que decidem racionalmente que não querem ser mães e está tudo bem.
Este idiota optou por condenar estas últimas. Condena, julga e quer que paguem uma taxa por não deixarem descendência. 30 anos sem filhos? Paga, sua imprestável.
Enfim.
Eu enquadro-me nas mulheres que não podem ser mães, mas que estão em paz com isso, mas já ouvi de tudo. Uma vez vieram ter comigo e disseram: “Tu sabes que já não precisas de um homem para ser mãe, não sabes?” Esta pessoa não sabia nada da minha vida pessoal, mas como não me conhecia um namorado decidiu “ajudar-me” assim.
Ser mãe nunca foi algo que eu sonhasse, mas nada que colocasse de parte. Para mim, para ser mãe eu precisava de ter o pacote todo, ou seja, estar numa relação estável e essa criança ser o fruto de muito amor. Infelizmente tive uma relação saudável cedo demais para ser mãe e depois quando voltei a ter uma, já era tarde demais. A saúde já não permite. Consegui arranjar paz no meio de muito sentimento, mas não pensem que foi fácil.
O que mais me magoa nestas coisas, é o julgamento sem ninguém se colocar no lugar da outra pessoa. A facilidade com que vêm ter comigo atirar postas de pescada sobre o que eu devo ou não devo fazer, continua a revoltar-me muito. Almoços de família em que a conversa vai sempre para aí e eu nem sei onde me enfiar. Pessoas conhecidas que me abordam para me questionar sobre aquilo que só a mim me diz respeito é algo que acontece muito mais vezes do que eu desejaria.
Conheço mulheres que não querem ser mães, nunca sentiram esse desejo. Algumas com relações estáveis e duradouras, mas preferem assim. É uma opção, como outra qualquer. Foi tomada ponderadamente e por isso deve ser respeitada. Não as torna menos mulheres, torna-as seres que pensam e decidem sobre a sua vida, como assim deve ser. Mas este trambolho tem coisas a dizer sobre a vida delas, elas incomodam esta criatura e ele que não as entende, quer castigá-las. Esta já é velha, tem sido assim desde o início da humanidade.
Aqui há atrasado recebi um request no Facebook, aceitei porque era de um amigo de amigos e postava cenas muito engraçadas. Eu sou uma palhaça que adora cenas parvas e memes em geral, por isso quem tem sentido de humor faz de mim seguidora. A coisa durou pouco, apenas até ao momento em que publicou um post em que dizia que a mulher do Macron não servia para nada porque estava numa relação com ele há anos sem nunca lhe dar um filho. Na opinião deste senhor, esta mulher não servia para nada se não lhe dava filhos. Há-de ser amigo deste idiota da Juventude Popular, com certeza.
Bem sei que muitas das pessoas que nos abordam, não têm maldade, falam por falar e repetem o que ouvem, mas deixo esta questão no ar:
Eu meto-me na vida de alguém? Alguma vez pedi a opinião sobre o que quer que seja? Não? Então deixem-me a mim e a todas nós em paz.
E já agora deixo uma questão para o senhor da Juventude Popular:
E se um homem decidir não ter filhos, também deve pagar essa tal taxa?
É para a SS e para o grave prejuízo demográfico.