As pessoas de Álvaro são imunes à paisagem bonita que as rodeia.
Quando chegamos ao miradouro de Álvaro, em frente à igreja, somos imediatamente abraçados pela vastidão da paisagem montanhosa. É o efeito da escala da paisagem, da presença de um vasto leito fluvial, e o céu grande. O relevo acentuado, o serpenteado imprevisível do rio Zêzere e a configuração pitoresca da aldeia não deixam ninguém indiferente.
À excepção dos que lá estão todos os dias.
É a ironia da beleza: quem a tem, muitas das vezes não a vê. Não acho que os habitantes de Álvaro ignorem as qualidades estéticas da sua aldeia e da paisagem, até porque lhes aparece uma lembrança diária, na forma de turistas curiosos. Mas é uma pena que quem lá viva não possa sentir o bom que é ver Álvaro meia dúzia de vezes por ano.
Uma outra ironia é o facto desta beleza estar associada à memória do flagelo que queimou mais de quarenta casas em 2017. Ardeu tudo, não só em volta, mas também no centro do povoado.
A imponência de uma paisagem grandiosa, a beleza pitoresca do casario… E a memória de um dia negro com as cicatrizes à vista.
Embora seja uma visita obrigatória, há tantos outros lugares próximos que estão a ser injustiçados neste texto. O precedente está aberto e terei que voltar a escrever sobre as nossas aldeias.
NOTA: Estive neste último fim-de-semana a tocar na aldeia de Álvaro, no contexto de uma residência artística dedicada ao Rio Zêzere e não podia deixar de falar do que senti lá. Uma residência realizada em Janeiro de Cima, com apresentação pública em Janeiro de Baixo e Álvaro. Com o apoio e acolhimento das Aldeias do Xisto.