Entender e escrever sobre pessoas difíceis devia ser tudo menos um exercício de grande complexidade. São pessoas que mais vezes vivem estes momentos em part-time e menos vezes assumem a personagem a tempo inteiro; são pessoas que têm de viver com os muitos estigmas-âncora que lhes são atirados por figurantes anônimos; sou Eu e és Tu.
Sendo-nos assim tão familiar esta ideia de “às vezes estou/sou difícil” seria natural esperar que tivéssemos conseguido consolidar algumas estratégias que nos ajudassem a lidar com tais episódios de alienação humana. E não sei se por fé na humanidade, ou memória curta, acabamos tantas vezes a reviver dilemas e cenas de um filme do qual já várias vezes quisemos passar à frente.
Nisto da alquimia das relações, não consigo deixar de sentir que estou sempre a re-aprender o ABC das interacções humanas. Está certo que com tamanha diversidade e riqueza na possibilidade de conjugações fica mais difícil antecipar padrões, mas haverá certamente forma de escrever pelo menos o primeiro capítulo do manual das Pessoas Difíceis.
Talvez o primeiro parágrafo possa ser sobre reconhecer o estigma em relação a nós, pessoas difíceis. Às tantas não somos pessoas difíceis mas pessoas em luta com algum acaso que nos molda os reflexos. E compreender isso pode ser a solução para fazer disso apenas uma transição.
Olhar mais para dentro e arriscar um decalque de nós próprios, e fazê-lo como caminho para entender os outros pode muito bem aproximar-nos uns dos outros. No final do dia, por mais combinações que possam existir, será assim tão difícil resumir a equação a uma necessidade quase sempre inconsciente de vínculo: sermos entendidos e aceites.
Podíamos sem tremer nem tropeçar, substituir o título deste texto por “Sobre o mistério das pessoas normais”, e nesse caso a conversa seria potencialmente mais interessante! Mas deixemos isso para outro altura que isto das interações humanas dá pano para mangas.