A música tem esta sublime característica
Nunca sabemos quem tocamos quando o fazemos
Nunca sabemos quem nos vai tocar por isso
É um afeto que extravasa os conceitos do tempo
Por isso Bach continua a tocar, sem tocar
Não há fuga possível ao toque da tocata
Não conseguimos afastar-nos da ária
Onde o coração se refugia da rotina
Nem sabemos o quão certo nos reserva
O fruir das nossas vidas intrincadas
Num quarto de tempo inusitado
Ou numa suíte sumptuosa e quente
Com certo fraseado enleado e denso
Continuamos a tocar os nossos dentros
num plácido minueto de apatia
Nas mãos que dão corpo à fantasia
Numa chacona bem treinada e pleita
Seja numa canzona trinada e frenética
Que nos envolva em profunda sonata
Que devolva o silêncio ao artista
Que embora tenha dado a alma a fantasias
Não foi a tocar que teve vinte filhos
Nessa escuta da perfeição do mundo
Onde um humano que tanto pecou
Deu mais mundo ao mundo que os deuses
Fuga – Estilo de composição contrapontístico e limitativo, muito explorado por compositores Barrocos.
Tocata – Peça virtuosa para instrumento de teclas
Ária – Composição musical escrita para um cantor solista (canção).
Suíte – obra musical composta por várias danças emparelhadas.
Concerto – Atuação musical ao vivo.
Minueto – Dança em compasso ternário de origem Francesa.
Fantasia – Forma musical que se baseia na variação, mas que por vezes incorpora material de uma forma livre.
Chacona – Género musical que utiliza a forma musical, baseada na variação de uma pequena progressão harmónica repetida.
Canzona – Composição instrumental do Renascimento.
Sonata – Termo utilizado para definir música instrumental, normalmente dividida em três andamentos.
Pleita – Adjetivo inventado pelo autor, usado quando faltam duas sílabas para completar a métrica, e não há mais nada a acrescentar. Uma espécie de tapa-buracos literário. Não significa rigorosamente nada, mas tem uma sonoridade maravilhosa.






