Opinião

Moradal e os Apalaches

Foto: Refúgios do Pinhal

Quando se trata de falar das minhas origens, faço sempre uma propaganda natural e automática à paisagem, gastronomia e gentes de Oleiros. Não sei, mas está em mim – nasci e vivi os primeiros 18 anos da minha vida na capital de distrito, Castelo Branco, mas mantive o coração alicerçado na terra dos meus pais e onde era feliz aos fins-de-semana. Hoje, em plena pandemia, e impedido de desempenhar a minha profissão de músico, escolhi Oleiros para passar o período em que não tenho trabalho. Encontro-me também a compor, e descobri que o silêncio de Oleiros é particularmente inspirador. É interessante que o movimento, a azáfama e as peripécias das viagens, que normalmente inspiram a minha música, parecem ser memórias com uma intensidade maior aqui: no silêncio meditativo da paisagem predominantemente agrícola. No lugar dos Cancinos, que é onde me encontro neste momento.

Não quero gastar o tempo de quem lê estas palavras com fundamentações da valorização do nosso território e insistir que esse processo tem que começar connosco próprios. Por isso, directo ao assunto e sem deixar cair a bola no chão, há poucos dias foi publicado na Nature (revista científica de reputação inegável) um artigo sobre a proximidade do território Ibérico com a cordilheira dos Apalaches. Esta afinidade não é nova, tanto que o famoso Trilho Internacional dos Apalaches – inicialmente criado no continente americano – se encontra expandido à península Ibérica há alguns anos, com base nas evidências da geologia, paleobotânica e outras que não sei enunciar. Esta reafirmação oficial, desta semelhança, associada ao facto de eu ter visitado há poucos dias estes trilhos na Serra do Moradal (ou Muradal), reforçam que temos um pequeno diamante em bruto aqui tão perto. É certo que os últimos dois meses foram (pelo menos para mim) propícios a reflexões e meditações que apelam à nossa ligação emocional… e a minha visita recente ao Moradal foi a concretização de uma ligação intensa. Mas esta cordilheira beirã, conhecida por estes lados como uma das linhas defensivas às invasões francesas, fez-me debruçar, não só numa visita desenfreada a todos os cantos da serra, como a um intenso trabalho de casa, em que procurei o máximo de documentação sobre a sua importância histórica e o seu papel nas invasões francesas.

Não sou geólogo, não sou historiador, não sou político, não sou marketeer… mas a minha actividade – a minha arte – permite-me a emissão de opiniões em forma de música e o uso da palavra é algo que tenho numa consideração especial. Sou uma pessoa normal com vontade de procurar a verdadeira essência das coisas. Neste sentido, da verdade das coisas, a serra do Moradal reúne algumas das coisas que mais me interessam neste momento: a paisagem, o plano meditativo e o espaço para levar o meu filho a explorar o (meu) mundo.

Um bom ponto de partida para conhecer mais, será o link http://jf-estreitovilarbarroco.pt/serra-do-muradal-2/percursos-e-rotas-trilho-dos-apalaches-gr38-pr4olr/

Na altitude da minha proposta, e enquanto vêem o link anterior, sugiro esta música:

Autor

Metade músico, metade produtor, metade apaixonado por viagens, metade inquieto profissional.