Opinião

Alguidares e muita paciência

Que me perdoem os vegetarianos, mas hoje vou falar-vos de chouriças.

Após a matança do porco era altura de ir à ribeira lavar as tripas para mais tarde as usar nas chouriças. Lembro-me do alguidar cheio de tripas que depois de lavadas na ribeira com água corrente se colocavam num alguidar com limão. A tarefa era da mãe, tias e avós, enquanto os homens desfaziam o porco.

Eram três alguidares. Um para as farinheiras, outro para as chouriças pretas ou de sangue e um para as de carne. Cada uma tinha um cheiro característico devido às especiarias usadas e a carne também era diferente para cada uma delas.

Lembro-me perfeitamente do cheiro de cada uma delas e normalmente eram feitas em dias diferentes.

O alguidar era enorme e a minha tarefa era enfiar as agulhas porque como a minha avó dizia, ainda tinha os olhos bons. Tripas, carne, funis, agulhas, linhas e muita paciência.

Aquilo era giro! Cada vez que o funil fugia, lá se ia tudo por água abaixo!

Ao final de horas, estavam feitas as chouriças, mas só depois de passarem pelo fumeiro estariam prontas a serem comidas.

Todos os dias se acendia uma fogueira para que o fumo pudesse secar a carne e as chouriças ficassem prontas para, por exemplo, serem usadas no melhor prato do mundo: um belo cozido à portuguesa!

Autor

Tradutora por habilitação, professora por profissão, viajante e curiosa pelo mundo por opção.