Opinião

A RESINA é a garantia da retoma, em grande

Há uma diferença grande entre deslocarmo-nos ao jardim da vila para ver uma peça de teatro, um concerto, ou uma apresentação de um livro, e irmos a uma festa e acabarmos amontoados – e muito amigos – ao balcão. Não me interpretem mal, gosto muito da energia de uma festa de arraial, da extroversão depois de umas quantas cervejas, mas ninguém contesta que é necessário garantir alguns cuidados nos ajuntamentos de pessoas. E é necessário ser realista – há situações em que é possível e outras em que é impossível.

A pandemia não é boa para ninguém, mas pensemos antes que temos agora a oportunidade de adoptar uma abordagem reformadora nas actividades culturais da nossa região. Uma oportunidade para valorizarmos encontros ao redor da expressão artística, do intelecto e do entretenimento. Uma forma de melhorarmos até o que já tínhamos.

Vale a pena o esforço e pensar nisto. Os “Concertos em Flagrante”, de que tenho já falado aqui, embora suspensos nos últimos meses, são a prova da urgência desta reorientação. Com o inestimável apoio de todo o público e amigos, dos participantes e das amplas entidades locais, estes nossos encontros confirmaram um caminho que sentíamos que estávamos a trilhar em conjunto. Colectivamente. Todos partilhamos a autoria do movimento que criámos. Curioso ainda, é que também todos tenhamos sentido a emergência de um certo activismo e nos sintamos parte de um movimento absolutamente inclusivo, aberto, sem adversários de qualquer ordem. É bom conseguir mudar sem adversários, sem armas, e juntar todos à mesma mesa. O espírito positivo, construtivo, de partilha, e remarmos numa direcção consensual é talvez o maior orgulho de todo este projecto cultural. Um caminho fascinante, pela reconciliação, e com a descoberta de um propósito.

Este propósito colectivo tem algo de individual, é um endoutrinamento plural e flexível, que vamos debatendo, afinando e construindo.

Não fosse a paragem destes eventos presenciais, imagino onde poderíamos estar. Estava a ser bom e assim que seja possível retomamos do ponto onde estávamos. A RESINA é este estado de suspensão, que nos permite manter vivos os nossos projectos. É também a garantia da retoma, em grande.

Autor

Metade músico, metade produtor, metade apaixonado por viagens, metade inquieto profissional.