Ontem assinalou-se o Dia Internacional das Mulheres, e esta crónica sai hoje como um prato de comida requentada, ontem alinhavei umas ideias, tendo como ponto de partida a vontade de escrever um post, mas fui-me deixando ficar, fui juntando linhas, umas mais soltas que outras, assisti a uma Conferência _Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, e depois pensei: Tanta coisa significativa que se diz, se escreve e partilha, se calhar não tenho assim tanto a dizer. Por isso, como um prato de comida que foi cozinhado de véspera, é necessário aquecê-lo.
Porquê devemos assinalar o Dia Internacional das Mulheres?
Porque a continuarmos assim vamos demorar mais de 250 anos até que mulheres e homens recebam salários iguais, para funções iguais. Talvez lá, nesse momento, esse dia passe a ser “apenas” o dia em que recordarão as Mulheres que lutaram por melhores condições de trabalho.
Até lá, é um dia que faz todo o sentido ser assinalado, mas não para ser comemorado com flores, com jantares à luz das velas, ou outras condescendências que tais, nem com cafezinhos com as nossas amigas, nem com catálogos de produtos de beleza, ou com a compra de pequenos ou grandes eletrodomésticos que nos vão permitir melhores performances domésticas, não é assim que vamos lá, não é assim que aceleramos para esbater este fosso, esta distância demasiado grande. Mas também não acredito na eficácia de uma luta de barricadas, não é “nós contra eles”, tem de ser um esforço conjunto de todas e de todos, não faz sentido ser de outra maneira.
Retomando, a questão como ponto de partida, faz sentido porque é uma questão de Direitos Humanos, a Humanidade precisa de continuar a crescer, de fortalecer maturidades, acredito que seremos tão mais felizes quanto mais justos e paritários formos (aqui sim, a regra aplica-se, acredito, tanto na sua visão micro_nas nossas famílias, como ma visão macro_sociedade) assim e enquanto houver:
Desigualdades no acesso ao ensino, no acesso ao mercado de trabalho, nas retribuições do trabalho, nos cuidados a prestar à família, na quantidade de horas de trabalho não remuneradas, no acesso a cargos públicos, nas decisões políticas e económicas, nos cuidados a prestar à família na conciliação entre vida profissional e pessoal, na prossecução da realização pessoal, no acesso ao lazer entre mulheres e homens
Casamento infantil/juvenil,
Mutilação genital feminina,
Trabalho feminino informal,
Violência no namoro, violência doméstica
Femicídio
Falta de autoderminação das Mulheres
Objetificação não consciente, ou não pretendida das meninas e das mulheres
e tantos outros temas…
Há a necessidade de se assinalar o dia, para nos relembrar e elencar o muito que temos para andar.
Depois, ao longo do dia de ontem fui vendo homenagens com títulos: As Mulheres da minha vida, para além das enternecedoras avós, mães, filhas e por vezes netas, com muitos corações, brindes e flores à mistura. Percebo, acho ternurento, mas é acatitado, egocêntrico e não serve a todas, até porque a maternidade não é nem o fim último nem serve a condição de ser mulher. Não é sequer uma validação para se ser mulher. Então e as Mulheres que ou não querem, ou não conseguem ser mães?! Não são nem menos mulheres, nem mulheres pela metade! Só quando a maternidade é uma escolha, ou uma vontade livre e conscientemente exercida é que pode ser validada pela própria, com ou sem parceiro, ou parceira, mas também só enquanto isso mesmo.
Seguindo, depois não tenho fotografias das mulheres da minha vida, é que são muitas, mais que a minha mãe, as minhas avós, as minhas tias, as minhas primas, as minhas amigas, são uma pluralidade quase infinita, e, claro também há homens, são sobretudo as e os que não conheço, mas que me permitem hoje estar aqui a escrever livremente, são elas e eles que lutaram para conquistar a democracia, o direito ao voto, a literacia, os cuidados de saúde, a descriminalização da interrupção da gravidez, o casamento de pessoas do mesmo sexo, etc, etc, ou seja: foi e é uma humanidade inteira, já veem que teria de ser um memorial aos soldados desconhecidos!
Quando se capacita uma menina, capacita-se uma mulher, e muitas vezes uma família inteira. Capacitar e empoderar: dotar de aspirações, de sonhos e de ferramentas que permitam concretizar essas aspirações e esses sonhos. Precisamos deles por elas. Precisamos de uma Humanidade que seja Feminista!






