Quando Diogo Cão colocou o marco dos descobrimentos na costa do deserto do Namibe, em 1485, naquela que é hoje a Namíbia, já a Welwitschia (espécie vegetal Welwitschia Mirabilis) que ilustra este artigo, lá teria germinado há pelo menos 500 anos.
Conhecida como um fóssil vivo, e com a longevidade difícil de estimar, esta planta que existe exclusivamente nesta região do globo (Namíbia e Angola), põe à prova a nossa noção da escala do tempo. A escala necessária para termos uma visão mais ampla da história das civilizações e dos tempos do Homem moderno.
É quando nos confrontamos com estas dimensões, maiores que as coisas do nosso dia-a-dia, que a nossa condição humana nos envolve e nos aperta. Estas dimensões, que estão por vezes para além do nosso entendimento, levam-nos a que se deposite por toda a nossa pele um suor, uma sensação de frio, de desconforto, de isolamento e solidão. Irónico, pois seremos biliões a sertirmo-nos sós.
Foi perante a memória desta contemplação, que fiz há dois anos no deserto do Namibe, que parti há minutos para uma reflexão sobre a escala de uma vida humana. É que na finitude do nosso tempo, valem-nos as emoções, a arte e viver com um propósito, de forma profundamente apaixonada. Que mais importa? À escala do universo somos nada. A insignificância deste piscar de olhos em que cada um de nós tem a oportunidade de viver, deveria ser mais do que suficiente para tornarmos todos os dias em dias com propósito, com sorrisos, com ligações aos nossos mais queridos e, tanto quanto possível, dedicados a vivências intensas. Vai tudo dar à nossa procura individual da felicidade. E esta procura, passa sempre – sempre! – pela nossa relação com algumas das expressões humanas a que chamamos de cultura. Seja porque gostamos de ler, de ouvir música, de visitar países com jeitos, vivências e características diferentes, seja porque nos deleitamos com um quadro, uma escultura, uma catedral gótica, um templo budista, uma aldeia pitoresca, as vestes de um povo, a gastronomia do mundo, porque gostamos de pintar, de escrever ou de nos exprimirmos artisticamente de qualquer forma… seja pelo que for, irá lá dar aos domínios da cultura. É por causa desta transversalidade que a cultura tem um papel fundamental no crescimento e na aprendizagem de seres humanos. É por ser omnipresente e indissociável do humano, que ela é tão fascinante e nos leva a procurá-la: Sempre.
É por ela que vale a pena viver, nem que seja durante este piscar de olhos. Um piscar de olhos mais breve que a existência daquela planta num deserto estéril e abrasador do trópico de capricórnio.






