Opinião

Exigências de camarim

Existe uma ideia generalizada, embora um tanto ou quanto romanceada, sobre aquilo que alguns artistas pedem para constar no seu camarim. Desde excentricidades como vários kgs de M&M’s de uma só cor (escolhidos à mão, claro), mesas de snooker, máquinas clássicas de pinball, até aos mais simples pratos de fruta da época, deve haver por aí um pouco de tudo, mas tenho ideia que o mito é maior do que a realidade.

Apesar da minha relação com a música não passar exactamente pela programação de artistas ou pela produção, tenho tido oportunidade de ver e ouvir falar um pouco de tudo. Acho fascinante a forma como as exigências de camarim são usadas para manipular a percepção de uma banda ou artista. Um colega com quem costumo tocar diz que é uma forma de “artistite”, por vezes aguda.

Às vezes parece haver um certo síndrome de “quanto-mais-me-bates-mais-eu-gosto-de-ti”. Por exemplo, as aparentes excentricidades com as férias vaidosas, consumismos diversos e vaidades parecem ser fonte de uma atracção infinita, mas se calhar, se o mesmo artista disser que afinal é do F. C. Porto, a carreira dele fica em pausa. Existe algo de extraordinariamente irracional nisto. Também o Síndrome de Estocolmo (que justifica entre outros casos, o frequente apego de vítimas de sequestro pelo seu sequestrador) é irracional e nem por isso é raro.

No universo dos meios artísticos e dos seus diferentes públicos, a lei-geral-da-lucidez não é garantida, muito menos quando analisamos amostras não individualizadas de pessoas. Lembram-se do Salvador Sobral, quando fez aquele comentário acerca da facilidade com que ele tinha passado a arrancar palmas?

Ía escrever que gostava de entender a fundo o funcionamento destes fenómenos, mas, provavelmente é melhor assim, não fosse eu usar este conhecimento para eu próprio me tornar no objecto de estudo.

Também não posso dizer que é coisa que me indigna, só acho tudo isto curioso… E quanto mais descubro parece que menos sei.

Autor

Metade músico, metade produtor, metade apaixonado por viagens, metade inquieto profissional.