Crónica

Empatia, se não for inata que seja aprendida. Divagações e filosofia de algibeira, quem nunca?

Temos em nós uma capacidade, inata ou não, para nos revermos, para fazermos parte, para nos identificarmos, para validarmos o que nos é familiar, semelhante, próximo ou idêntico. Talvez para nos validarmos mutuamente, porque temos também uma outra necessidade a de aceitação, é mais fácil se nos lembrarmos dos tempos da adolescência, da necessidade de correspondermos, de estar e de sermos parte daquele grupo, daquela tribo, de partilhar com eles o modo de vestir, de estar, as mesmas leituras, as mesmas músicas e por aí fora. São fenómenos grupais.

E o que nos é diferente? Os que não são iguais a nós? Os desalinhados, aqueles que estão do outro lado da linha (imaginária) que traçamos, como olhamos para eles, como interagimos com eles? Não há uma resposta, há várias, haverá tantas quantas as pessoas que olham, que se olham.

E os nossos preconceitos, as ideias que nos foram incutindo ao longo do nosso crescimento, e que depois, já por nós próprios fomos continuando a alimentar? Condicionam, talvez até pré determinem, como somos perante os outros, como nos ligamos a uns e nos distanciamos de outros. Apenas pelas diferenças que teimamos em olhar de lado, com desconfiança.

Precisamos de mais neurónios espelho, ou mais exercitados, mais trabalhados, mais estimulados, que além de nos permitirem mimificar comportamentos, quando alguém boceja perto de nós, nós bocejamos, talvez nos permitam imaginar aquilo que se passa na mente do outro, talvez nos levem ao lugar onde o outro está, isto para que na base de nossa compreensão possam estar as emoções do outro, sem necessidade de julgar, de moralizar, de validar do nosso ponto de vista, não me refiro aqui a comportamentos éticos reprováveis. Apenas pelos afetos e pelas emoções, numa aprendizagem emocional da empatia.

Há aquela sabedoria popular que nos lembra de não julgarmos o outro sem que tenhamos calçado os seus sapatos e percorrido o seu caminho. Mas será que precisamos mesmo de calçar os sapatos do outro e andar o que andaram para os compreendermos e aceitarmos? E a aceitação da diversidade, simples, acrítica? Se não for inata, talvez possa ser aprendida, ou estimulada. É possível aceitar sem passar por aquilo que os outros passam, a história está cheia de exemplos, com contexto é fácil não só percebermos, como de aceitarmos.

Como diz a música de Tom Jobim e do João Gilberto: No peito dos desafinados também bate um coração!
É de certeza pelo coração, pelo amor e não pelo lado da tal linha imaginária que nos identificamos. No fundo, não muito profundo, talvez seja nas diferenças que afinal, somos tão semelhantes, bom, bom é abraçar essa diferença.

Autor

É inquieta, gosta de azuis, de estórias, de sons, de lugares, de pessoas com o coração no sítio certo, de ir e de regressar, de olhares e de afetos.