Crónica

Até breve

Durante a semana costumo tocar num hotel vínico de Vila Nova de Gaia.

O turismo de massas em Portugal, grande parte das vezes tem circuitos minimais.

Os passageiros aterram em Lisboa, alguns passam as suas férias na capital, outros compram circuitos que começam pela Capital, e depois vão subindo, sempre pelo litoral.

Paragens por Fátima, Coimbra, Aveiro, algumas noites no Porto, e os mais crentes, acabam em Santiago de Compostela, onde apanham o voo para o seu País de origem.

Somos muito bons a receber, é um facto, e é muito difícil encontrar um turista descontente com o nosso País, e as nossas gentes.

Sempre que converso com turistas, falo da Sertã, terra onde cresci, e onde estão as minhas raízes.
Grande parte das vezes, obviamente, situo a minha terra geograficamente, falo da paz que se vive no interior, das duas ribeiras que a serpenteiam, e de alguns pontos de interesse turístico.

Há cerca de dois anos, toquei o último tema antes do intervalo, levantei-me e fui até ao balcão.

Um brasileiro interpelou-me, disse que tinha gostado da minha versão de João e Maria do Chico Buarque, e perguntou se não me queria sentar e beber um copo na mesa dele, onde estavam mais três pessoas. Aceitei e apresentei-me aos presentes.

Eram os quatro brasileiros, dois casais, e quando me perguntaram se era do Porto, respondi que estava emprestado, morava em Gaia, mas grande parte da minha vida tinha sido passada no interior do País, numa vila chamada Sertã. Nessa altura, dois dos presentes olharam para mim, e perguntaram:

– Você é da Sertã?

Eu estava a preparar-me para esclarecer como habitual, e falar-lhes um pouco da minha terra, mas fui interrompido por um dos casais presentes.

– Nós fizemos uma visita ao interior do País no ano passado, estivemos em Tomar, e depois na Sertã.
A tranquilidade daqueles lugares é sagrada, adorámos os lugares, a comida…

Eu ia para ajudar a enaltecer o interior e a Sertã, mas eles não me deixaram.

– E as pessoas? Gente tão simpática, as noites são calmas, mas fomos a um bar onde nos deixaram ficar, diziam eles, até querermos, não tinha hora de fechar, como é possível?

Sim, disse eu, essa particularidade da Sertã também é interess…

– Se vocês não foram têm que ir, dizia a mulher do casal que conhecia, para o outro casal.

Durante uns largos minutos, ali estive, a ouvir dois brasileiros turistas inveterados e profissionais, a dizer que quem não conhece a minha terra não sabe o que está a perder.

E eu, a concluir que há inúmeras razões para visitar o interior do país, mas é preciso conhecê-las. Por isso quem vem uma vez, regressa, só custa convencê-los a vir, e isso, pelos vistos, faço tão bem eu, que vejo a Sertã com o coração, como quem, um pouco sem querer, teve a sorte de nos visitar.

Por isso gostamos tanto do “até breve”.

Autor

Gosta de tocar piano, ler e escrever. Nasceu na Sertã e mora actualmente em Gaia.