Há muitos anos que como uma romã no dia de Reis. Era-me sempre dada pelo meu primo Rufino para que tivesse saúde e boa sorte durante todo o ano. O Rufino já faleceu, mas eu continuo a cumprir a tradição. E não sei se por isso ou não, tenho tido saúde e sorte, em todos estes anos, incluindo este de 2020.
Dei por mim nos últimos dias a pensar no que teriam sido as coisas boas de 2020. Minhas, da minha família, do e no mundo. Sem qualquer ordem ou organização, fui-as escrevendo. Eis a minha lista.
Sou abençoada por:
- Ter liberdade de escrever o que quiser nesta crónica (ah, a liberdade é o valor maior, e há tantos que não a têm);
- Amar e ser amada;
- Ter os melhores amigos do mundo (não tentem contradizer);
- Poder pôr os meus talentos a render, na minha profissão e na minha vida;
- Poder continuar a estudar e a aprender;
- Ter um teto e comida na mesa todos os dias.
E dou graças a Deus por:
- A Terra, apesar do que todos nós humanos lhe fazemos, continuar a existir (embora tenhamos que urgentemente agir, sob pena dos nossos netos não sobreviverem);
- A vacina. Meu Deus, que bela prenda de Natal, a vacina contra a Covid 19! ;
- O Trump não ter ganho as eleições;
- Ter feito novos amigos neste ano de “trepidações várias”;
- Ter tido o privilégio de ter assistido um concerto ao vivo só para mim e para outra pessoa no dia 10 de Junho, em pleno confinamento. Ai, a falta que me fazia um concerto, definitivamente “music is my radar”…
- Ter podido passar o confinamento a que todos fomos sujeitos perto da minha mãe, e ter usufruído da sua companhia e comidinha boa (a da nossa mãe é sempre a melhor);
- Ter iniciado alguns projetos este ano, convidada ou em conjunto com pessoas maravilhosas. Saliento a RESINA (resina.pt – uma rede para a divulgação e ativação cultural da Zonha do Pinhal) e o Passepartout, um programa na Rádio Voz On Line na Coussoul (aos sábados, a cada 15 dias, com a minha amiga Susana – vozonlineradio.pt);
- Ter uma família por perto (há tantos que a perderam em guerras e deslocações);
- Pela alegria das crianças. Eu destaco a alegria e sorriso da Alice, minha priminha (a bebé mais simpática do mundo, juro-vos!);
- Ter descoberto um pequeno paraíso, no meu território, e que pensava conhecer de cor (obrigada Nuno!);
- Ter a sorte de ter pessoas à minha volta que não pensam como eu, e que na discussão e contraditório, me ajudam a elevar;
- Pelos incríveis jantares virtuais que fiz com amigas este ano (ah, o abraço está guardado para todas vós!);
- Por uns maravilhosos dias de paz no Alentejo no final do Verão (um grande bem haja Helena!);
- Ter ouvido de novo a voz do meu pai, numa cassete gravada no meu segundo aniversário e que encontrei em arrumações;
- Por um final de tarde que jamais esquecerei na Barragem do Caia;
- Por excelentes colegas de trabalho, que fizeram deste ano muito mais fácil;
- Por uma viagem curta, mas em que me senti mais perto de Deus;
- Pelos magníficos vizinhos que tenho, em Lisboa e em Oleiros, sempre tão generosos na partilha, de tudo;
- Pelos enfeites de árvore de Natal vindos de perto e de tão longe;
- Pelo “nosso” presépio;
- Pela capacidade de criar, que espero ter.
Dou por mim a perceber que foi um ano bom. A romã já está em cima da mesa à espera do dia 6 de janeiro. Amadurecerá ainda um pouquinho, pois só um fruto maduro atrai prosperidade. Até lá, encontrarei mais coisas boas para dar graças.
E desafio-vos a encontrarem as vossas. E se quiserem, partilhem. Gostaria muito, a partilha une-nos, disso já não tenho dúvidas.
E para o ano de 2021, tal como a Zaz,
“Je veux d’l’amour, d’la joie, de la bonne humeur
Moi j’veux crever la main sur le cœur”
(eu quero amor, alegria e bom humor,
eu quero “morrer” com a mão no coração)
Que assim seja!
P.S. Ah, o título desta crónica é inspirado num livro magnífico do não menos magnífico Valter Hugo Mãe – As mais belas coisas do mundo – que recomendo vivamente que leiam. Vão perceber que o mundo tem imensas coisas belas, das quais nos vamos, por uma ou outra razão, esquecendo…