Crónica Opinião

Finitude

Todos convivemos diariamente com a noção da nossa finitude.

Ao longo dos anos fui aprendendo a lidar com esta ideia do fim. Na verdade, acho que nunca aprendi a lidar com ela, se é que tal seja verdadeiramente possível, mas tentei aperfeiçoar a técnica cobarde de me abstrair, de me distrair e simplesmente evitar pensar na dor, nos infortúnios. Se por um lado, viver no alheamento parece contribuir para uma vida feliz, por outro, parece deixar-nos escandalosamente despreparados.

Agora olho para a minha noção de um dia feliz. Para mim, um dia feliz até há uns anos, seria sempre um dia em que eu sorria e a morte era algo que, nesses dias, nem me passava pela cabeça, ou parecia ser algo sem dor. O grosso da minha aprendizagem sobre a minha própria noção de felicidade aconteceu há cinco anos, numa das maiores aventuras (geográficas e espirituais) que já tive, no sudeste asiático. Não aconteceu numa cidade ou lugar concretos, nem num dia preciso… Foi uma construção gradual de reflexões ao longo de três meses. E a duração da viagem importa talvez até mais que os lugares. Descobri que atinjo uma felicidade inebriante com a ideia da exploração constante, da aventura, da novidade a cada dia, da possibilidade de nós próprios termos a oportunidade de sermos uma construção só nossa, a partir do zero, se quisermos. Foi importante aprender a estar de bem com o tempo presente, permitir a mudança e saber que nos podemos redefinir e reimaginar. Aí, no poder das introspecções à distância, valorizamos o que realmente nos é importante. A família, os amigos, o conforto da nossa casa e o tempo. O valor do tempo.

Acima de tudo, não confundamos esta dedicação à introspecção e descoberta com obsessões e estados depressivos. Quando tudo é feito no tempo e lugares certos – cabe à sorte e a cada um descobrir como atingir esse equilíbrio – reflectir sobre a condição humana e sobre a nossa finitude pode ser um processo positivo e revelador. Algo que nos orienta para nós próprios, que nos faz descobrir o valor do nosso tempo com os nossos mais queridos.

Devagar. Viver na urgência turbulenta de aproveitar todos os momentos de forma obsessiva rouba-nos a capacidade de viver todos os momentos em paz. Quando se vive na ânsia constante, o tempo turva-nos e passa mais rápido, que é o que nenhum de nós quer. A cada dia, a cada hora, a cada instante que seja possível sorrir e ser feliz, é fazê-lo. Se não o fizermos, esse é tempo perdido, que roubamos à nossa vida.

Autor

Metade músico, metade produtor, metade apaixonado por viagens, metade inquieto profissional.