Hoje, numa quinta-feira menos luminosa que o habitual, quero relembrar algumas das coisas que me fazem sentir grata. Não uma gratidão como protocolo social ou um dar valor aquilo que merece valor, mas antes um fluxo leve e incondicionado, que vai muito além da dicotomia habitual.
Sinto-me grata por viver num mundo que me permite sonhar e conceber construir uma casa no campo. Não falo de um campo qualquer mas de uma ideia de ruralidade que me é familiar e íntima. E com isso sinto uma energia reconciliadora que vem do acreditar que posso construir o meu caminho até esta “casa” e por, até algumas vezes, saber qual a direcção a seguir.
Há dias em que sinto o peso dos limites de uma geração: que temos de ir, sair e partir; que precisamos constantemente começar de novo. Numa corrida contra um tempo com prazo que já passou da validade e dele precisassemos sacudir algum sinal de vontade em permanecer. Como se ficar fosse sinónimo de parar.
Ter raízes fortes é também deixarmos fortificar, consentir crescer sem medo sabendo que estaremos sempre bem seguros. Sinto-me grata por me terem permitido vivências que ajudaram a criar este sentimento de que pertenço a esse lugar.
Quando temos raízes que crescem enroladas em afectos, não será uma qualquer brisa que será capaz de as arrancar. É como partir com o mesmo entusiasmo de quem conhece o mundo pela primeira vez, mas com a certeza de que mais do que ir ao encontro de um destino se é esse destino.