Geral

O bicho apanhou-me.

Depois de meses e meses a escapar, o bicho apanhou-me!


Malvado do bicho! Era dia 18, sexta-feira. Depois de uma semana de trabalho, estava a preparar-me para ir de fim de semana ter com os meus pais e resolvi fazer o auto-teste para ir descansada. Enquanto ia preparando os sacos, enfiei o raio da espécie de cotonete novamente dentro das narinas e fui à minha vida. Quando já tinha os sacos à porta, espreitei o teste e tive de me sentar! Parecia que já não ia a lado nenhum! Estava positiva.


Liguei para o trabalho, para a mãe, namorado e para a Saúde 24.


O enfermeiro disse-me com todas as letras que estava em isolamento a partir daquele momento e por um período de 7 dias. Mesmo sem novo PCR poderia voltar à minha vida na sexta-feira dia 25. Umas horas depois disto, recebi a declaração provisória de isolamento.


No sábado de manhã fui a um drive thru fazer o PCR para confirmar o raio do bicho. Tinha uma leve esperança que fosse um engano, mas não. Confirmou-se.


Pânico! Como ia para Oleiros, não tinha comida em casa! Aliás essa é uma das coisas que vou fazer a Oleiros: ir buscar comidinha da boa!


Precisava de vegetais, fruta, mercearia, comida para a cadela e para o gato! Pânico! Enfim. Pedi ajuda. Quem tem amigos tem tudo! <3


Tinha comida, mas 7 dias fechada em casa?! Alguém me disse para me acalmar porque já me tinha acontecido durante as primeiras semanas da pandemia, mas não, agora seria diferente. Nessas semanas podia ir à rua, podia ir passear na natureza, podia ir às compras – agora não. Isolada do mundo, sozinha! Estar sozinha não me assusta, até gosto. Estar fechada é outra coisa, essa parte iria fazer mossa.


E fez. Não poder sair de casa não é espetacular. Não ter grandes sintomas isso sim, é. Passei os dias constipada, com dor de cabeça e extremamente cansada, mas não perdi o paladar, o cheiro nem nada de problemático. O enfermeiro com quem falei tinha razão, se estivesse fechada em casa por ter partido uma perna teria sido bem pior.


Segunda-feira ligaram-me da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo para saber se estava bem e se precisava de ajuda. Incrível! Fiquei maravilhada com aquele telefonema e orgulhosa por fazer parte do Serviço Nacional de Saúde de Portugal.


Trabalhei, li, fiz sopa, arrumei a casa, brinquei com a bicharada.


Não coloquei uma gota de água no corpinho. Não sabia se podia e pelo sim pelo não, não arrisquei. Andei a chá e Bem-u-rons!


Quarta-feira ligaram-me do trabalho para me avisar que tinha de voltar ao trabalho no dia seguinte, pois seria nesse dia que o isolamento terminaria.


Como assim? Eu fiz o auto-teste na sexta-feira dia 18! Resolvi ligar novamente para a Saúde 24 para ver o que tinha acontecido pois tinham-me dito uma coisa e no papel estava outra.


A senhora explicou-me que como eu lhe disse que na quinta-feira caí no sofá exausta, eles assumiram que tudo começou na quinta, dia 17. Ainda lhe disse que na semana passada aconteceu-me o mesmo na quarta-feira, dia 9, por isso se calhar teria sido melhor ter começado nessa altura o isolamento… Adiante.

Falha minha, devia ter confirmado a data do início do isolamento, mas se me foi dito que o isolamento iria começar precisamente naquele dia, a partir do momento da minha chamada, eu não tinha razões para duvidar da palavra do enfermeiro. Certo?

Errado! Devia ter confirmado, mas nunca pensei que o SNS fizesse futurologia!


Eu estava farta de estar em casa, não foi por regressar ao trabalho que me irritei, foi pela situação em si. Dizem uma coisa, escrevem outra. Se não me ligassem do trabalho, só iria trabalhar na sexta-feira e iria ser uma chatice.


Enfim. Se isto tivesse terminado sem uma história caricata nem seria eu, por isso siga!



Autor

Tradutora por habilitação, professora por profissão, viajante e curiosa pelo mundo por opção.