Geral Opinião

Sobre novos hábitos em tempos de quarentena

Sempre ouvi dizer que é impossível eliminar velhos hábitos. Que para nos livramos de um mau hábito devemos substitui-lo por outro. Criamos hábitos para depois não nos conseguirmos livrar deles. Chega a ser irónico mas é assim que funcionamos.

Em tempos de quarentena, sem esperas para chegar a lado nenhum, ganhámos tempo; um tempo velho que cheira a novo e que deixa a porta aberta para o que sempre quisemos fazer mas nunca conseguimos. Quantos de nós começámos a ensaiar novas rotinas na secreta esperança de se tornarem velhos hábitos?

A ideia de que precisamos de novos hábitos quando o mundo parece virar-se de pernas para o ar, como uma espécie de transe da renovação pessoal, traz uma pressão que não precisamos. Tenho-me perguntado se com esta euforia de uma vida nova, do slow living, do less is more, estamos a renovar velhos hábitos ou a viver num jogo de adição que dificilmente acaba numa soma aritmética.

Quem o diz é o Eckhart Tolle e eu gosto muito de o ouvir: O futuro é muitas vezes uma repetição do passado. A nossa mente entra numa relação obsessiva com o futuro se não formos capazes de viver o hoje, o aqui, este instante.

Uma cabeça cheia de ruído não guarda espaço para respirar. Nestes dias de quarentena, gosto de me relembrar disto.

Autor

Sonha em construir uma casa no Trisio. Acredita que sonhar não custa e por isso gosta de ter os pés um pouco levantados do chão.