Geral

Porque estamos a desperdiçar o brincar

No pretérito dia 23 de maio de 2023 assisti na Escola D. Maria II, em Vila Nova da Barquinha, a uma brilhante palestra do Prof. Carlos Neto sobre “A importância de brincar em casa, na escola na família e na comunidade”. 

Dizia ele que a escola e o paradigma de aprendizagem estão ultrapassados. 

Os períodos de recreio dos nossos jovens são cada vez mais curtos e os espaços de brincadeira uniformizados e maçadores. 

O caminho casa-escola-casa, que antes era feito a pé ou “a butes” em alegre cavaqueira, e com muita asneira pelo meio, passou a ser feito isolado e em transporte automóvel acompanhado de brinquedos individuais. As crianças deixaram de ter tempo para brincar em grupo: à apanhada, ao lencinho, ao eixo, ao berlinde, ao pião, às caricas, aos gambuzinos, etc. 

Somente, possuem alguns singelos minutos para brincarem uns com os outros pois são infinitas as atividades extracurriculares. 

O convívio da rua, que desempenhou um papel determinante no nosso crescimento, virou território interdito aos nossos filhos e netos. 

Fechados e isolados em casa é que eles estão bem, soe-se! 

Sem nos apercebermos estamos a criar adultos inativos tanto em termos físicos, como cognitivos. 

Importa repristinar a brincadeira em grupo, as quedas, o partir de cabeças, os conflitos e as brigas. 

Há que relembrar a importância da rua, do movimento, e da improvisação. «A rua está em vias de extinção. Olhamos para a cidade e já não vemos crianças a brincar. Passeiam-se mais os cães do que as crianças.»! [Prof. Carlos Neto]

“As qualidades infantis, que se deveriam conservar até à morte como qualidades distintivamente humanas, deviam ser as da imaginação, em vez do saber, as dos jogos, em vez do trabalho, as da totalidade, em vez da separação … Não haverá salvação para o mundo enquanto não entendermos e fizermos penetrar em nossas consciências este facto basilar, e enquanto as nossas escolas, transformando-se inteiramente, não forem, em lugar de máquinas de fabricar adultos, viveiros de conservar crianças; enquanto não forem as crianças que nos levem, não pelo caminho que uma ciência fáustica previu, mas pelo que houver, dando a mão, ao mesmo tempo, a nós e às coisas” [Agostinho da Silva]. 

Autor

Gosta: de sopa de couves e feijão; de cousas simples; da mãe natureza e de fazer feliz o outro!