Geral

Este ano não vamos passar o inverno aos trópicos.

Das primeiras coisas que fizemos ao chegar ao hotel, em Banguecoque, foi pedir na recepção para nos guardarem um saco até ao fim da viagem. O saco mais parecia uma bola de praia, fofo, enchumaçado e insuflado. Lá dentro, as sapatilhas e os casacos de inverno que usámos em Lisboa até entrarmos no avião e que só precisaríamos de usar em Março.

Estávamos em Janeiro, o João tinha acabado de fazer 6 anos. Como a pandemia nos adiou os planos de viajar em família, este era o momento do “agora ou nunca” para proporcionar uma viagem ao nosso filho, antes de ele entrar na primeira classe.

Escolhemos Banguecoque como ponto de partida para um périplo entre as melhores ilhas e os percursos imperdíveis, tais como: percorrer as principais linhas de comboios da Tailândia, navegar no mar de Andamão nos tradicionais barcos “longtail”, percorrer o grandioso Rio Mekong num “slowboat” durante dias, até chegarmos ao Laos. Enquanto alugávamos aceleras 125cc (lá diz-se motorbikes!) em todos os sítios onde parávamos.

Estar de Janeiro a Março, sempre de chinelos, no calor húmido dos trópicos, é algo que encaixa muito bem na minha definição de habitat perfeito: o tempo abranda, os sentidos – mais disponíveis para sentir o mundo – apuram-se. Os olhos vêem com entusiasmo e curiosidade, os cheiros bons e maus entrelaçam-se no decorrer do dia-a-dia, a pele rejuvenesce com a temperatura e a humidade do ar. Com tudo isso, no repetir dos dias, a alegria vem de mansinho e os sorrisos aparecem. Geralmente, lá para o terceiro dia, depois da parcial recuperação do jetlag é quando começamos a tomar verdadeira consciência da evasão e do estado de espírito de viagem.

No início de 2024, eu, a Catarina e o João, não vamos fugir do inverno português. Vamos enfrentá-lo, de casacos e gorros enfiados, mesmo que não haja semana em que o João não fale de uma ou outra experiência dessa viagem. Ele pergunta muitas vezes quando vamos voltar. E ele sabe que adorávamos ir sempre que quiséssemos, porque todos temos imensas saudades dos dias que passámos. Mas neste momento, a viagem mais importante é a do crescimento dele, e vê-lo a aprender, entusiasmado com a escola e com os amigos, é uma bonita forma de nós aproveitarmos bem a vida.

Autor

Metade músico, metade produtor, metade apaixonado por viagens, metade inquieto profissional.