Artigo disponível em áudio, narrado pela autora.
O dia amanheceu cinzento,
A quem se pede uma justificação de atraso, ou como se constroem melhores reinados?
O dia hoje amanheceu cinzento, talvez reflexo das pessoas, ou do País que somos ou nos teimamos em tornar.
A par dos julgamentos em praça pública, num debitar de achismos e de sentenças acusatórias sem matéria probatória, vão-se fazendo trânsitos sumários em julgado. Todos sabemos, todos temos uma opinião, é tudo tão casual! Assim andamos. Ente a falta de honestidade intelectual de muitos e a chica esperteza de outros tantos, salvam-se poucos. O Quarto Poder antecipa a silly season como pode, vendem-se ideias e conceitos como: onde há fumo há fogo!, à custa da fuga de informação de um outro poder (o Judicial), basta lembrar Citizen Kane_ Orson Welles. E assim vamos. Depois é fácil extrapolar que de maus políticos a péssimo jornalismo (Jornalismo de Investigação escreve-se com letras maiúsculas quando e, se é exercido por gente maior, e não, não é o nosso caso), até ao público igualmente péssimo, chegamos assim ao caldeirão perfeito: temos o que merecemos!
Mas não era sobre nada disto que eu queria escrever hoje, era sobre trânsitos, e não, não é de astrologia, embora facilmente me deixe convencer que o mercúrio anda retrogrado, bom se não for o mercúrio, somos nós…
A pessoa pratica e ensina aos filhos que a nossa liberdade termina onde começa a dos outros, e de repente vê-se confrontada com a aldeia que não ajuda a educar! Em Oeiras, Carnaxide completa-se mais um ciclo de edificação intensiva, mais um condomínio e à hora de ponta: hoje ainda não eram oito horas da manhã, já uma das vias estava cortada com as descargas de materiais para a referida obra, fazendo com que os carros, que antes circulam em duas faixas e que seguem destinos diferentes (uma delas atravessa Carnaxide), a outra segue para Linda-a-Pastora, dizia: fazendo com que os carros se afunilem numa só via, para então, em cima do entrocamento voltarem a bifurcar consoante o seu destino…
A primeira pergunta é: – Desde quando se sacrifica o bem-comum pelos interesses individuais, com a chancela do poder local e da autoridade (há Polícias por ali)!?
Naquele local, passam muitas pessoas a caminho dos seus afazeres: autocarros, carros, motas, de bicicletas, etc. que se veem presas pelo menos vinte minutos, vá pelo menos os que levam quatro rodas no chão, para que o Dono da Obra, receba os seus materiais. Pequenos reinados e seus súbditos.
A seguda (pergunta), imediatamente decorrente da primeira é: – Este tipo de constrangimento concentido e programado no trânsito não deveria ser feito fora das horas de maior intensidade, tipo à noite?!… -Encarece a obra! Vão responder os liberais-tecnocratas…- É o mercado Senhores, aquele vosso amigo, ou primo, ou parente! O interesse do Dono/Rei da Obra é certamente maior que o de todas as outras pessoas que se veem ali paradas. Os mesmos de cima vão responder: – Olhe que sim, olhe que sim!…
Se a intervenção fosse de caráter urgente, por exemplo uma avaria ou intervenção de qualquer fornecedor público: gás, água, eletricidade, etc, percebo. Agora esta, não!
A entidade que concede autorizações para ocupação da via pública_Município, deveria zelar pelo bem comum, ou pelos interesses individuais? Se calhar já não é assim.. Onde fica a proporcionalidade? Não estamos a medir o impacto na vida dos restantes cidadãos: há certamente pessoas, e muitas, pensando na lotação de vários autocarros que têm chegado sistematicamente atrasados aos seus destinos: escola, trabalho, etc. Mas esses são transparentes, não criam riqueza, nem postos de trabalho…A quem se pode pedir uma justificação de atraso, para entregar?
Como se exercem os direitos de cidadania nestes contextos?
Depois, e porque no mesmo trajeto que faço diariamente passo por várias escolas, é-me impossível não presenciar a aproximação ao final do ano letivo, e as viagens que assinalam a efeméride anunciam-se com os autocarros que levarão os diabretes, perdão corrijo: os pequenos descendentes da realeza a passear, aparcados conforme calha: ele é passeios, ele é passadeiras de peões, é onde for, num: salve-se quem puder, junta-se a isto que os pais que levam os filhos de carro e que receberam a circular (atualmente deve ser por whatsapp) que os lembra da necessidade imperativa de que todos estejam às 8h00 no local de encontro, se sentem absolutamente investidos do poder de também eles aparcarem onde melhor lhes aprover, afinal há em todos uma monarquia divina que os investe deste poder: têm pressa e os seus herdeiros ao trono não podem chegar tarde, não nestes dias.
Não, os vossos piscas todos acessos não são investiduras divinas de um livre-passe para o que vos apetecer… E assim se perdem oportudades educativas.
Senhoras e Senhores Diretores de Escolas, Senhores e Senhoras projenitores da monarquia de amanhã: precisamos de todos vós para construir um reinado melhor!