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Realidades alternativas

Crescer num sítio pequeno tem as suas particularidades. Uma delas e a mais comum é saber-se e querer saber da vida de cada um. Isto pode ser um factor maravilhoso porque em caso de necessidade as pessoas chegam-se à frente muitas vezes sem ser preciso pedir, mas por outro lado há muita conversa.

Quando alguém é reservado como eu, a coisa pode complicar-se porque não sabem o que se passa o que as leva por vezes a perguntar, mas muitas outras vezes a inventar. Isto foi revoltante enquanto crescia, mas agora é apenas algo que me faz rir.

Eu devia ter uns trinta anos, mais coisa menos coisa. Se namorava ou não e com quem, só os próximos sabiam e há anos que era assim. Um dia estava sentada a beber um café e chega um rapaz da terra que começa esta conversa:

– Ouve lá, tu já tens trinta anos?

– Sim, já.

– Casada não és. E namoras?

Eu pensei que já estava a querer saber mais do que devia e respondi que não porque não me apetecia continuar aquela conversa, ao que ele respondeu:

– Mas tens algum problema?

Eu fiquei incrédula, levantei-me e respondi:

– O meu único problema neste momento és tu.

Levantei-me e fui-me embora.

Confesso que na altura aquilo me chateou um pouco porque provavelmente era pensamento comum e só porque eu não mostrava, isso não queria dizer coisa alguma. O tempo passou e hoje não passa de uma história engraçada.

Quanto às invenções, deve ter havido muitas o que é normal porque as pessoas falam, mas lembro-me de uma em particular que meteu a minha mãe ao barulho e que nos arrancou umas gargalhadas.

A minha mãe, um dia, ligou-me para me contar o que eu andava a fazer da minha vida, isto porque eu não fazia a menor ideia! Uma vizinha foi ter com ela para saber como ia a minha no Entroncamento com o meu marido e com o nosso filho! Ora, eu acho que nunca estive no Entroncamento, casar também não me lembro de o ter feito e filhos também acho difícil terem-me escapado desta maneira; a parte de parir pelo menos eu devia lembrar-me!

Toda uma nova vida, caramba!

Onde mais terei eu vivido? Com quem? A fazer o quê? Um mundo inteiro de opções e eu aqui – na realidade! Pffffff

Autor

Tradutora por habilitação, professora por profissão, viajante e curiosa pelo mundo por opção.