Geral Opinião

Hooliganismo e a fadiga pandémica

Quer dizer, não realizamos a maioria dos eventos culturais porque se tende a generalizar que pode haver insegurança, mas importamos quase 17 mil ferrenhos de futebol estrangeiros para uma festa que, como todos sabemos, leva invariavelmente a comportamentos de risco.

Perdoem-me a generalização – e cá estou para a assumir – mas já sabíamos no que isto ia dar, não sabíamos? As regras são criadas em função do perfil comportamental (generalizando, portanto) por isso, porque razão achávamos que o comportamento seria diferente?

Tudo bem que as pessoas querem voltar a estar juntas e que a recuperação económica é necessária, mas há que ter muito cuidado com a mensagem que estas iniciativas dão a todo o país. Supostamente, a bem da recuperação de alguns, de um ou dois sectores, criam-se potencialmente tremendas injustiças em todos os outros, favorece-se a disseminação, nomeadamente, da preocupante variante indiana do vírus (em crescimento no Reino Unido) e enfraquecemos o esforço dos mais respeitadores e dedicados à solução desta pandemia. Esgotaram-se barris de cerveja e quartos de hotel, pese embora somente em meia dúzia de lugares, enquanto todo o sector e todos nós lançávamos o esgar de fora.

Andamos há mais de um ano a fazer um esforço que, perante este e outros episódios semelhantes, se tende a reduzir ao descrédito, à revolta e à fadiga.

Deixámos de ir a “festas”. Quem precisa delas para viver ainda espera pela oportunidade de poder trabalhar, passado um ano, mas este fim-de-semana lá se fez a festa da bola com 17 mil pessoas que têm um perfil comportamental bastante conhecido e bastante diferente dos frequentadores de espectáculos culturais.

Talvez a minha pouca empatia com matéria futebolística me faça ter mais dificuldade em aceitar os comportamentos de alguns adeptos e a falta de medidas para os evitar (!), mas este é o meu estado de alma de hoje, algo que, por não me deixar pensar com clareza noutros temas, decidi trazer para este pequeno texto, transformado assim em desabafo.

Vejo essencialmente duas razões para a minha indignação. A primeira, é que não foi só este fim-de-semana que o hooliganismo foi um comportamento indigno, aliás sempre o foi. A segunda é que, sendo previsível o que aconteceu, o problema está só nos confrontos entre adeptos e desacatos vários… a quem se deve mesmo o descontrolo? Se falhou planeamento, ou falharam meios, algum tipo de antecipação, só pode ser ingenuidade. A bolha rebentou e a festa pode sair mais cara do que vale.

Resta esperar que não haja contágios significativos e que o (mau) sinal que nos foi dado este fim-de-semana não enfraqueça a vontade de continuar os esforços em ter um comportamento responsável.

Façamos antes a festa quando formos à final com este vírus.

Autor

Metade músico, metade produtor, metade apaixonado por viagens, metade inquieto profissional.