Não tenho por hábito fazer balanços, nem inventários ou contagens de stock no final do ano, gosto de contabilidades emocionais organizadas ao dia. Atualizo a lista dos afazeres várias vezes durante as mesmas 24 horas, e não são raras as vezes, em que puxo de um lado e destapo de outro, mas sei que é mesmo assim, e aprendi a não dar muita confiança à culpa de não estar onde devia, tantas vezes quantas devia, e por aí fora.
A Anabela lançou o repto de encontrarmos as coisas boas para dar graças.
Aqui vão, algumas não foram boas, mas ainda assim foram
- Começamos o ano 2020 rodeados de família e amigos, alguns dias ao ar livre, ainda tentámos por a mesa de almoço do Dia Bom, no alpendre, as noites à lareira: Concretizamos: Partilha, Família e amigos por perto!
- Viajamos logo no início do ano, porque a ânsia de conhecer e de saber como é lá fora, é para concretizar, sempre que possível: Concretizamos: os melhores presentes não são coisas, são experiências, o que fica da experiência é muito mais duradouro do que a posse
- Confinamos, ficamos afastados fisicamente mas certos de que os abraços que guardamos a crédito têm destinos certos. Aprendemos e concretizamos: A inquietude sossega, na certeza de que o coração bate no sítio certo
- Comprei parte de uma empresa, em plena pandemia. Aceitei o risco, consciente de que será um desafio grande_Concretizamos a premissa: Objetivos e desafios: traçam-se, medem-se e avança-se!
- A mais crescida de nós, ensinou-nos que chegou o momento de se deixar cuidar_Concretizou e ensinou-nos: Uma mulher tem que fazer, aquilo que tem que fazer!
- Estivemos de férias, ao ar livre, a visitar lugares de infância, a navegar mares que já tínhamos navegado, azul no céu e no mar, a desfrutar do que era possível, com amigos e família por perto, não tão perto… Concretizamos a adaptabilidade e a alegria
- Um dos nossos mudou de escola, de ensino, e a noite virou dia. Deixou o caminho a pé para a escola, e os amigos do bairro, procurou um lugar de que gostasse mais, que não fosse um esforço matinal e foi_Concretizou, ele, e nós por arrasto, a premissa: Procurar o que nos faz feliz é fundamental
- Outro dos nossos planeou, persistiu mesmo quando todos lhe dizíamos que talvez não fosse possível, e mudou de casa, de pais. Aos dezasseis, saiu sozinho para se superar a si mesmo, enfrentar e ultrapassar obstáculos_Concretizou, ele, e nós por arrasto, a premissa: Se tiveres medo, vai com medo mesmo! Os rios correm para o mar
- Dois de nós, descemos ao bloco operatório, para resolver coisas simples, e saímos de mala na mão, com a certeza de os outros de nós estavam ali, para cuidar. Concretizamos que não se adia o que não é para adiar, e que apesar de muito e bem acompanhados, parte da vida faz-se connosco mesmos
- Continuamos projetos onde estamos envolvidos, não abandonamos, persistimos. Concretizamos que por mais que o mar se agite é preciso continuar a navegar
- Abraçamos novos desafios, a RESINA.pt foi talvez uma das revelações do meu ano, de um convite inesperado surge um lugar de liberdade, de ideias, de partilha, de pessoas que conhecemos de vista e passamos a conhecer de coração. Aprendi a confiar e a partilhar, em e com quem conhecia mal. Concretizei que quando estamos disponíveis, a partilha acontece
- Perdemos alguns, fizemos parte dos lutos deles, mas também nos nasceram primos, pequeninos, que queríamos muito cheirar, aconchegar e abraçar, aos pequeninos e aos que nasceram pais nesses dias. Concretizamos que os afetos são acções, mas quando não são possíveis, também são palavras e tempo e escuta ativa.
- Fechamos o ano a correr de um lado para o outro, assistimos, partilhamos, fizemos parte de estórias, das vidas mais felizes e das outras que não, dos amigos e da família.
A vida a acontecer, tal como ela é.
Planos para 21?
Olhar céus, ver estrelas e horizontes, saborear, cheirar e desfrutar de momentos bons, continuar a aprender, sempre. Sentir e estar perto de quem gosta de nós, serenar e agitar na proporção certa, ouvir a música de sempre mas guardar espaço para a que ainda não conhecemos. Ver ainda mais azuis dos que aqueles que conheço, prestar atenção às cores do céu, e às flores que nascem entre pedras. Esbanjar palavras e sentimentos bons. Despejar os abraços e os beijos nas costelas e nas bochechas certas, que por enquanto ainda me engordam a crédito!






