No passado sábado tive uma experiência que me trouxe um elevado nível de concretização pessoal. Tenho tido a sorte – chamemos-lhe sorte – de ter tido bastantes realizações nos últimos anos, mas como é importante celebrar cada uma das vitórias da nossa jornada, achei interessante escrever um pouco sobre este assunto.
Como resultado de um projeto apoiado pelo Município de Coimbra, apresentei no Convento São Francisco, juntamente com amigos músicos e o Museu da Música de Coimbra A.C., um espetáculo dedicado às expressões musicais não urbanas da região. Neste caso, as regiões das serranias, associadas à ruralidade e à vida campestre.
Não é recente o interesse em tocar repertório da dita recolha tradicional, temos assistido ao ressurgimento de grupos com esta inclinação, mas nós, não só pelo desinteresse na repetição, mas essencialmente pela honestidade do nosso impulso criativo, quisemos fazê-lo como um exercício de liberdade e de exploração: juntando sonoridades ditas tradicionais com sons urbanos e electrónicos.
As fronteiras foram efetivamente empurradas, mas gentilmente. Feito sem a pretenção de qualquer disrupção, e, nem que seja pelo perfil e percurso artísticos dos membros, foi tudo feito com grande respeito e de forma apaixonada.
Gostei do resultado e ficou no ar uma grande vontade de continuidade. Julgo que estas aventuras por vezes ajudam-nos a sentir completos. É curioso que, tal como as viagens nos ajudam a compreender o quão bom é estar nos nossos lugares, junto das nossa pessoas, também estas “viagens” musicais parecem servir para recuperarmos a apreciação pela nossa raiz e percurso musical.
Viajar é bom, voltar a casa também. Tocar noutros “projetos” é bom, voltar à nossa sonoridade também. Não encontro, para já, melhor forma de dizer isto, mas estamos contentes e entusiasmados com o papel que “As Vozes do Xisto” parece ocupar, a par com tudo o resto nas nossas vidas.
Tenhamos mais oportunidades.
