Geral

As opiniões dos outros

Tenho um bom amigo que de vez em quando me diz que é bom estar à vontade comigo para ele ser quem é. Diz que comigo pode dizer algumas coisas de uma forma que nunca estaria à vontade para dizer a grande parte do resto do mundo.

Antes que o cheiro da vaidade do primeiro parágrafo passe para os seguintes, adianto-me com as desculpas e com a justificação que a virtude está muito mais do lado dele que do meu.

Tem muito pouco a ver com alguma característica especial que eu tenha, embora talvez muito a ver com a diversidade de experiências (muitas delas musicais) que partilhámos em conjunto nos últimos anos. Nesta partilha de ideias, sensibilidades e tempo! fomos descobrindo formas diferentes de construção da nossa amizade e parece que há um registo em particular que nos agrada a ambos. Neste registo, permitirmo-nos um sentido de humor absolutamente descomprometido, estando à vontade para gracejar com pouco filtro e aceitarmos que há coisas que têm mais graça que outras – e a vida é assim!. Aceitamos facilmente o erro de discurso e percebemos que o podemos (tentar) corrigir em seguida. E se, eventualmente, alguma ideia não funcionar à primeira há sempre uma nova oportunidade para tentar que funcione. Connosco, as conversas são maleáveis e de vez em quando, ambos torneamos e damos forma a ideias pela noite dentro. Dito assim parecem tratar-se de conversas que devem à clareza, à pertinência e à substância, mas talvez sejam, pelo contrário, conversas expansivas e desafiadoras de perspectivas. Sei que somos dois indivíduos que experimentam, trocam e partilham ideias até que estas funcionem, ou não funcionem de todo – uma espécie de método científico em rápido andamento, muitas das vezes em torno de uma cerveja e sempre, sempre, a ter a noção que esta é uma óptima definição do que é estar em boa companhia.

Este privilégio de não termos que nos esforçar para construir uma imagem pessoal é uma bênção e sobretudo, a chave para permitir a mútua apreciação pelo nosso lado infantil. Ali, no reino pueril das ideias espontâneas, os pensamentos não têm filtros, não têm preconceitos, é permitido ser experimental e por vezes até nos saem da alma coisas bonitas… mas também saem coisas meio sem jeito… é normal, emendamos.

O que é bonito, e que dá segurança a este regalório das ideias, é que também temos em nós um adulto para que as crianças não descambem. Mas descambar não é uma preocupação.

Ora, cheguei onde queria e onde o título deste artigo “resinoso” pode começar a fazer sentido.

É sabido que temos uma tendência para nos preocuparmos com a opinião dos outros. Talvez até haja mais preocupação em pensar no que os outros pensam do que pensarmos em como podemos aprender com os outros. Estou convicto que essa preocupação nos muda mais do que nos possamos aperceber e é aí que reside o problema: tornarmo-nos naquilo que achamos que os outros aprovam.

Que sentido faz alguém procurar a validação dos outros? Especialmente quando esses – a quem por vezes andamos a tentar agradar – são geralmente, aqueles que não estão a nosso favor?

Por mais que saibamos que agradar a todos é impossível porque gastamos nós energia com isso?

Mark Twain tem uma frase muito interessante a este propósito: “Quando as tuas opiniões começarem a coincidir com as da maioria, está na hora de reconsiderar as tuas opiniões.”.

Este artigo, agora publicado, foi escrito a 7 de dezembro de 2021. Obrigado Pedro Almeida, pela amizade, cumplicidade musical e pelos longos serões ébrios, que mais do que momentos de companhia, são sempre uma aprendizagem.

Autor

Metade músico, metade produtor, metade apaixonado por viagens, metade inquieto profissional.