Geral

O voto na Cultura é diário

Com a nova fase de confinamento geral à porta, muitos de nós, temos também pela frente o desafio da manutenção do bem estar e da sanidade. O recurso aos conteúdos culturais não passou despercebido nos primeiros meses da pandemia, quando ironicamente, a par com a paragem do sector o seu consumo aumentou exponencialmente. A música, a literatura, o cinema, as séries, as visitas virtuais a museus, assistiram à prova de fogo sobre o seu papel fundamental do estímulo intelectual e no autocuidado. Ninguém negará agora que a cultura é absolutamente necessária à manutenção de um espírito saudável e até ao “tratamento” da alma.

Passou-se quase um ano. Vem aí novo confinamento e este não vai ser uma repetição decalcada do anterior. Desta vez, não vamos cair no encanto televisivo do planeta que parece regenerar-se com apenas duas semanas de paragem. Não vamos ficar admirados com os canais de Veneza totalmente vazios. Não vamos achar que é uma oportunidade extraordinária para apreciar imagens aéreas de grandes metrópoles estagnadas, como se o tempo ali tivesse parado. Não vamos achar que vai correr tudo bem (para todos). Não vamos achar que no fim disto vamos todos sair melhores.

Sou positivo, gosto de apreciar os admiráveis milagres da comunidade científica, a capacidade da sociedade se adaptar, o efeito na valorização das pequenas coisas do dia-a-dia que esta pandemia nos trouxe, mas não esqueçamos nunca de nos manter intelectualmente saudáveis e participativos na solução, porque no fim, que só vai ficar tudo bem para alguns e só alguns sairemos melhores. Vêm aí dias de leitura, música e horas infindáveis de ecrã.

Desta vez, e com tudo o que já aprendemos, não podemos esquecer que é também da nossa responsabilidade o futuro que teremos após a pandemia. No que toca à retoma da actividade do tecido cultural, há coisas que podemos fazer já, como manifestar o interesse na produção cultural local. Os representantes do poder local – as Juntas de Freguesia e os Municípios, por exemplo – estão normalmente atentos às manifestações de contentamento e desagrado da população, não fossem esses factores fundamentais para a manutenção de mandatos. Os meios de contacto destes organismos e das salas de espectáculos estão disponíveis na internet. Façamos chegar a intenção aos ouvidos dos amigos, dos vizinhos, dos familiares. Façamos todos a nossa parte, diariamente. Porque o favor é a nós próprios.

Seja através da disponibilização de conteúdos online, apoios à publicação de obras, ou mesmo realização de eventos presenciais é necessário ser realista e adaptar às contingências sanitárias, mas neste âmbito, já sabemos que não houve surtos a assinalar relacionados com o meio do espectáculo. Resta-nos reconhecer o papel vital das artes no dia-a-dia e exigir que o fluxo criativo não pare de vez e que seja produzido bem perto de nós.

Exijamos cultura. Exijamos que ela aconteça próxima de nós. Exijamos que seja feita com recurso aos agentes culturais e artistas locais. Diariamente.

Autor

Metade músico, metade produtor, metade apaixonado por viagens, metade inquieto profissional.