Adoro expressões populares, expressões idiomáticas e coisas que dizemos, mas que não podem ser interpretadas literalmente. Uso-as com frequência e gosto de as ensinar aos meus alunos (os mais velhos). Na última aula em que levei expressões para os meus alunos, todos me disseram que era coisa que não usavam em português, por isso seria natural também não as usarem em inglês. Era justo, não têm de gostar do que eu gosto. Estou em paz com isso.
Mas eu insisto porque acho importante. Ao não serem usadas correctamente, estas expressões até incidentes diplomáticos podem causar. Podem e já causaram, como daquela vez em que José Mourinho decidiu usar uma expressão popular portuguesa traduzida literalmente para inglês e caiu o Carmo e a Trindade. José Mourinho disse “The dogs bark and the caravan goes by” e aquilo em português faz sentido “Os cães ladram e a caravana passa”, mas em inglês não! O que ele quis dizer foi que apesar do muito ruído negativo à volta da sua equipa, o Chelsea, a verdade é que ela estava em primeiro lugar, mas eles acharam que o treinador estava a chamar cães aos adversários!
É esta a riqueza e o perigo das expressões, elas dizem muito mais do que as palavram nelas encerram, mas fora de contexto e contexto cultural podem ser ofensivas ou simplesmente não fazerem sentido algum.
Ultimamente tenho reparado que algumas expressões inglesas começaram a ser usadas em português como se fossem nossas, como “Estão a chover cães e gatos”, mas confesso que isso me causa estranheza. Se nós temos a expressão “Chove a cântaros”, para quê inventar? As expressões populares podem e muitas vezes têm equivalente noutras línguas, por isso convém procurar por elas antes de traduzir literalmente o que se ouve.
Bem sei que a língua está sempre em mudança e há novos vocábulos sempre a entrar e a passar a fazer parte da língua normativa, mas vamos com calma. Vamos tentar manter as nossas antes de ir buscar outras.
Já me aconteceu rir muito de traduções muito dúbias só porque a alguém não lhe apeteceu fazer o trabalho de casa. Lembro-me de ouvir numa estação de rádio que a rainha mandava as suas simpatias a alguém. Por momentos fiquei a questionar-me que raio queria aquilo dizer, mas depois lembrei-me da expressão inglesa “send or give sympathies” e fez-se luz. Eram condolências ou sentimentos que ela mandava, valha-me dEUS!
Por outra vez, numa outra estação de rádio, também fiquei muito confusa por alguns segundos. Ouvi o autor de um programa dizer: “O DJ baseado em Detroit” e mais uma vez fiquei a apanhar bonés até pensar em inglês. O que aquilo queria dizer era que o DJ trabalhava a partir de Detroit, mas em português europeu aquilo era só ridículo. Já em português do Brasil um baseado é outra coisa, algo que até faz rir, mas nem assim aquilo tinha alguma piada…
Concluindo, vamos com calma nessas traduções livres de coisas que já existem. Bem sei que dá trabalho, mas é por isso que existem tradutores, sim? Grata.