Há sempre duas formas de encarar uma passagem de ano: podemos decidir que é sempre a mesma coisa, que só o ano muda, mas que tudo continua igual; ou, por outro lado temos uma boa desculpa para mudar uma coisita ou outra.
Não quero com isto dizer que não somos desde já uma peça de arte, somos – claro! Mas pronto, dar mais uns pespontos para a peça ficar perfeita, qual Galliano na casa Dior.
Trazer o Galliano não é inocente, um génio da arte da costura caído em desgraça pelo álcool e uma língua demasiado comprida e meio viperina. Tinha o mundo a seus pés, mas viveu mais um dia.
Viver mais um dia é uma bênção e cabe-nos a nós não o estragar. Era giro que assim fosse não era? Pois, mas não é. Conseguimos controlar tão pouco do que se passa à nossa volta… Raios. E às vezes só nos deixamos levar. Há tantas distrações e jogadas mal pensadas…
Quando comemos as doze passas e brindamos com champagne, temos à nossa frente não um (se tudo correr bem), mas mais 364 dias em que tudo nos parece possível. (Provavelmente isso também se deve às misturas que, entretanto, fizemos durante o serão até chegar à meia-noite, mas isso agora não interessa nada!) Doze passas, doze desejos e aqui vamos nós, de peito aberto para o que o novo ano irá trazer. Tudo é esperança. Tudo é possibilidade.
É verdade que não conseguimos controlar muita coisa, mas é por isso que mandamos a toalha ao chão? Somos rijos ou não?
Doenças, morte, desastres naturais – nada disto conseguimos controlar e andamos há anos a tentar. A sorte? Essa é polémica. Tivemos sorte ou fizemos a escolha certa? Sabe-se lá. Continuamos. Seguir em frente, se possível com um sorriso enquanto ainda temos dentes.
Sei que quanto mais para baixo estamos, mais porcarias nos acontecem. Ficamos vulneráveis ao azar, parece-me. Mas é difícil não nos irmos abaixo quando os nossos próximos nos faltam, quando os nossos adoecem e nem todos somos uma Odete Rijo guerreira que aguenta tudo com doçura. Às vezes ficamos amargos, ausentes, frios. Somos más pessoas por isso? Será apenas uma defesa? Tudo faz parte da espuma dos dias.
De dia 31 para dia 1 não pensamos nisso. Tudo é esperança. Está tudo em aberto. Queremos esquecer o que foi mau e queremos fazer de nós pessoas melhores, mas será que aprendemos realmente com os nossos erros? Teremos essa capacidade? Parar, escutar, analisar, aprender e seguir caminho.
Eu tenho um problema, reajo por impulso. Quando dou por mim já estou raivosa com coisas insignificantes e a primeira reação é sempre negativa. Isto não é um problema, é uma coleção de problemas que só me prejudica! Ter razão ou ser feliz é a pergunta. Para mal dos meus pecados, nem sempre tenho razão e muitas vezes tenho dúvidas, ao contrário do outro por isso as coisas complicam-se!
Este jogo que é viver é muito complexo. Nem sempre temos as cartas certas, raramente temos o ás ou jogo para assistir e é difícil fazer milagres com o raio do dois de paus que nos sai muitas vezes, mas por outro lado é isso que o torna tão interessante.
Fazer o melhor com o que temos, rodearmo-nos de pessoas que possam ser bons pares de jogatana e continuar a dar pesponto aqui pesponto ali, é o que nos resta.
Isso e pedir 12 desejos. Uma e outra vez.
Bom 2025, minha gente!