Artigo disponível em áudio, narrado pelo autor:
Todos aguardávamos a noite mais comprida e o dia mais pequeno do ano.
Os trabalhos findaram.
As ruas da vila tornam-se geladas.
As árvores nuas de folhas da Devesa esboçam grandes duendes que vadiam pelo nosso rossio.
A serra da Lontreira vira pardacenta, está composta de cores cinzentas.
O som da chuva bate leve, levemente, continuada, nos telhados cor de tijolo.
O seu fragor no telhado indicia uma noite de fogão ou de borralho.
As panelas com couves e bacalhau gorgolham com satisfação. Dentro em breve irão nadar em azeite novo para alegria dos convivas.
O vinho está selecionado.
As crianças brincam. Não adormecem cedo nesta noite desejada com tanta esperança, pudera!
Sabemos que a noite será mal dormida, na justa espera que o Menino Deus não se esqueça destes grãos de areia do universo.
É a ocasião de costumes, das tradições, das histórias e das memórias.
É o tempo de poucas coisas e de muitas coisas.
De manhã, o tal Menino – que não o Pai Natal – trouxe um singelo brinquedo comprado na feira de novembro, bem como uma roupinha para aconchegar o frio de Inverno.
É Natal, tempo de recolhimento, dos que creem e dos que não creem.
Dos que principiam e nunca acabam e dos que finalizando, julgam ter iniciado.
Dos que da honra, pensam saber a verdade.
Dos que da justiça, sondam o progresso.
De todos e de nenhum, porque o importante é saber renascer e achar-se a si mesmo.
Paz na terra aos homens e mulheres, de boa vontade.
Santo Natal, resineiros!