Artigo disponível em áudio, narrado pela autora.
Esta crónica poderia resultar de uma parceria entre mim, e o Chat GPT, quando decidi experimentar a IA ao serviço de todos. Espero não ter criado um monstro maior e mais azul que o das bolachas! Em menos de 10 segundos tinha um texto, em inglês, sim, vou-vos poupar ao copiar e colar, até porque, por muito inteligente que a inteligência artificial seja, ainda não articula melhor para o efeito que eu pretendo. Eu queria articular sobre os assuntos: BVO/Associativismo e Comunidades Locais
Da nuvem de palavras/ideias que a Inteligência Artificial me enviou, sobre o Associativismo e as Comunidades Locais, destaco:
- O associativismo promove e fortalece os laços das comunidades locais,
- Promove a cooperação e a partilha de responsabilidades na comunidade,
- Amplifica as vozes dos seus associados,
- Empodera os seus membros para enfrentarem desafios comuns
- Melhora o bem-estar, o sentimento de pertença e a vitalidade das comunidades
Para quem lê fora da zona do pinhal, a sigla que dá título a esta crónica: BVO, nada vos dirá…já para quem teve a “aleatoriedade privilegiada” de nascer no coração do concelho com a maior mancha de pinheiro bravo, esta sigla está-lhes tatuada na pele, a muitos, e a outros é como bradar aos céus. Eu que sou do segundo grupo, tenho memórias de salvação nas horas mais difíceis.
Agora podíamos fazer de conta que esta crónica seria uma publicidade, que eu por momentos vestiria a pele de influenciadora digital e que vos convidava a fazerem compras utilizando um código promocional, podia ser todo um clickbait, que vos aliciava a fazerem parte de uma “elite”, de um grupo altamente prestigiante com cartão (platinado) da casa daqueles que garantiam a entrada, a abertura daquelas fitas que travavam a entrada aos mais afoitos e um sorriso do porteiro (não sabiam sorrir, nunca, desgraçados!) e a garrafa na prateleira, a festa estava quase garantida e tudo se tornava onírico. É quase tudo verdade, menos a primeira parte deste parágrafo, vamos lá:
BVO, é a sigla dos Bombeiros Voluntários de Oleiros, até aqui era fácil. Fazem este ano, 75 anos ao serviço das populações, têm uma exposição no Pavilhão Multiusos de Oleiros que merece uma visita, por lá podem ver relíquias e máquinas que combateram fogos! Precisam hoje, e sempre da ajuda de todos. Precisam que nos tornemos sócios, que tenhamos todos: cartão da casa! Eles asseguram a “garrafa no bar”, reforço que o sentido é figurado. Mas há mesmo descontos, se, ou quando precisarem de ser transportados numa das ambulâncias, e o sorriso deles também é garantido. A visita à exposição é gratuita, mas podem sempre pagar o bilhete: a vossa quota anual.
Em nenhum momento a IA faz referência à maior ou menor capacidade ou apetência das comunidades locais se associarem, a mim parecia-me uma decorrência óbvia, pela proximidade e estilo de vida que associo a estes lugares, se calhar preconceito, meu.
Coisas que o Chat GPT não sabe, porque não experiencia, sim que o saber empírico é feito das experiências: É que na sala do quartel dos Bombeiros de Oleiros se assistiram a filmes, se fizeram bailes memoráveis, se casaram amigos, ou que ao som da Fanfarra muitas meninas da terra tiveram o coração a palpitar fora do peito. E de repente, é todo um serviço que se presta à população e que foge aos desígnios habituais, que se enquadram em atividades de âmbito cultural e romântico.
Enquanto a nível nacional e central se continua a discutir a profissionalização dos bombeiros, por ali são anos de esforço, por ali passaram muitos amigos nas horas vagas, a fazer voluntariado. São pessoas sempre prontas, quando a sirene soa, elas e eles vão. Deixam tudo: se estiverem a tomar café, deixam. Se estiverem numa refeição familiar, deixam todos à mesa e vão. Sim, provavelmente também deixarão a cama e os lençóis amarrotados, e vão. Vão sem saber para onde, sem saber se voltam. Também por ali passaram muitos Comandantes, alguns amigos, um deles morreu há uns dias, sem avisar, sou-lhe a sirene e…foi! Deixa muitas saudades, a última vez que fui ajudar a preparar refeições, o Tó Zé Luís era o Comandante, o fogo já por lá andava há dias, sem clemência, bravo como os pinheiros, mas mais bravos que aquele monstro indómito eram os homens que o combatiam. Numa das suas breves passagens pelo refeitório naqueles dias, pude ver-lhe uma expressão áspera, tinha o rosto engelhado e pouco espaço entre as duas sobrancelhas, tão diferente da expressão vivaz e alegre que tinha fora dali. Estava muito preocupado pelo que ardia e pelos que estavam a dar tudo, fazia-se acompanhar por outras pessoas que não eram dali, mas teve sempre uma palavra gentil para os que tinham vindo ajudar. Trocamos poucas palavras: “- Todos somos poucos…, aquilo está enorme…” sussurrou-me num abraço fugaz. Pude responder-lhe apenas: “- Força!” Deixo-vos por aqui esta inconfidência, em jeito de homenagem. Em Oleiros, passado o choque, a perplexidade da sua morte e a perda mais irreparável de todas: a de termos perdido um homem bom. Se a memória coletiva lhe fizer justiça há-de encher-se da alegria com que ele viveu sempre!
Dos bons sentimentos que vale a pena experienciar, quanto mais não seja pelo conforto que traz é o de sentir que fazemos parte de uma família, de uma comunidade, de um grupo. O associativismo é fundamental hoje e sempre para a sobrevivência e manutenção das associações e coletividades locais, são aqueles laços que unem aquelas populações. É uma elite, sim! Porque as suas experiências e as suas vivências são únicas e têm significados territoriais e locais e “aquelas” e “aqueles” somos nós, todos juntos!
Se por acaso, durante ou após a leitura desta crónica, vos vier à cabeça: – O que posso fazer para me envolver ou ajudar a minha comunidade?! E se não vos ocorrer nada melhor: façam-se sócios dos BVO: a quota mínima anual é de 12€. (…uma rodada de cafés ou minis, a abaladiça de uma festa, uma ida ao cinema, qualquer coisa deste género). Uma sugestão: quando vos nascer uma criança, filho, neto, primo, ou outra, façam-na sócia, como fazem com os “fotobóis”, garantam-lhe um cartão da casa! Se os vossos Bombeiros têm outra sigla, não importa, vão ao quartel e peçam um formulário de sócio, ficam com cartão da casa e a promessa de um sorriso, sempre!